terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Paraíso de Picard - Parte 4 - Final


Samuel saiu ás pressas do quarto de Lisa12, para não criar confusão.

Pediu á uma garota que passava para que o levasse até um local onde pudesse dormir. Ela o levou a um dos quartos de clientes, e tentou entrar junto.

Ele a empurrou para fora.

_Saia daqui!

Deitou-se, e massageou as têmporas, estava inquieto. Lisa12 não saia de seus pensamentos.

Por fim, adormeceu, mas não teve um sono revigorante.

Pela manhã, banhou-se, foi em um dos restaurantes do Paraíso, e tomou café.

Estava decidido a falar com Lisa12 mais uma vez. Uma última tentativa de extrair dela alguma informação, de fazê-la entender que estava...

_Apaixonado! Isso não é possível, ela é uma garota de programa! Pensou.

Dirigiu-se ao quarto dela, e bateu á porta.

Lisa12 o atendeu, e permitiu que ele entrasse.

Ela tinha olheiras, um semblante triste, os cabelos desarrumados.

_Eu passei a noite inteira chorando por sua causa. Você me faz sentir doente, eu me sinto uma aberração, ela disse.

_Uma aberração? Está louca?

_Eu nasci aqui Samuel! Todas nós nascemos aqui. Minha vida inteira eu soube que os homens não amam, e que nós apenas transamos com eles. Nós amamos somente a nós mesmas, se for o caso de uma união duradoura. De repente, você vem, e me beija daquele jeito, e eu quero você, de um jeito diferente, mas isso é nojento!

_Lisa12, eu não estou entendendo, você não está falando coisa com coisa.

_Eu vou te mostrar. Siga-me com todo cuidado.

Ela saiu, e Samuel a seguiu.

Ela entrou num dos acessos do anel de concreto que circundava o paraíso. Em seguida começou a descer uma enorme escadaria, que era bem pouco iluminada. Samuel a seguia, sem entender o que estava acontecendo.

Chegaram a um grande corredor, que tinha paredes de concreto de um lado, e paredes de metal do outro. Lisa12 mostrou uma fresta entre duas placas de metal para Samuel, e pediu que ele olhasse.
Ele viu claramente por entre as frestas, mas não conseguia acreditar.

Centenas de casulos de vidro, com aproximadamente 3m de altura por 1,5 de largura, contendo um líquido laranja e um feto dentro. Dos casulos saíam tubos, que estavam ligados há enormes máquinas, que renovavam o líquido contido neles.

_Vamos sair daqui logo, é perigoso, disse Lisa12.

Samuel a seguiu novamente, e retornaram ao Paraíso. Os olhos dele estavam vidrados.

_Vocês nasceram...aqui! Ele disse assustado.

E fomos educadas aqui. Apenas mulheres.

Samuel entendeu tudo. Ele conseguiu visualizar claramente as salas de aula, passando vídeos pornográficos, ensinando que os homens não servem para se amar, moldando, alienando cada mente feminina nascida lá. Selecionando mulheres lindas.

_Como só ficam as bonitas? Ele perguntou.

_Eu me lembro que quando atingi quinze anos, muitas amigas minhas desapareceram. As feinhas...

_Meu Deus! Isso é...inacreditável e horrível...

_Entendeu por que me sinto estranha ao gostar de você?

_Lisa12, você não tem noção de como foi vítima de Picard.

Ela realmente não tinha, pois todo o seu conhecimento havia sido fornecido por Picard, de forma estratégica, para não gerar um comportamento que comprometesse o “Paraíso”.

Sua infância inteira foi feita de orientações mórbidas, que a fazia aceitar que sua vida tinha como propósito apenas servir os clientes, dar e receber prazer, e jamais gostar de um homem, pois os homens não serviam para amar.

Não fosse o amor incontrolável que Samuel despertou nela, e que ela ainda tentou afastar, como se fosse algo anormal, não teria por alguns momentos se desvirtuado de todas as regras impostas e massificadas em sua mente, desde seu nascimento.

*

*

*

Vinte e cinco anos atrás, Picard iniciou o paraíso. Entre a construção e a instalação do moderno centro gerador de crianças, foram cinco anos. Picard investiu milhões e milhões em tecnologia, funcionários de confiança, pesquisas, e conseguiu gerar oitocentas garotas, das quais quinhentas foram descartadas ao completar quinze anos, pois não atendiam ao rigoroso padrão de beleza que Picard queria.
Sofreram inúmeras lavagens cerebrais desde a infância, e ao completarem dezoito anos, estavam prontas para servirem aos propósitos de Picard.

*

*

*


Samuel pediu que Lisa12 não comentasse a respeito do que tinham feito com absolutamente ninguém. Ele saiu ás pressas do Paraíso.

Uma semana depois helicópteros sobrevoavam o local. Dezenas de carros de polícia, dezenas de carros de reportagem aguardavam a abertura dos portões do “Paraíso de Picard”

A notícia correu o mundo, sendo classificada como o maior crime contra a mulher de todos os tempos.

Quando os portões se abriram, três agentes de polícia federal, que haviam se infiltrado como clientes, saíram levando Picard, algemado, com várias marcas de agressões no rosto.

Em seguida, centenas de mulheres começaram a sair pelo portão, seus rostos eram de terror, elas estavam sendo libertadas, mas não sabiam do quê.

Muitas se recusavam a deixar o local, apavoradas com o que poderiam encontrar fora de seu pequeno mundo, onde moravam todas em casa com formato de ovo.

Uma delas, e apenas uma continha um sorriso no rosto, mesclado á sensação de entrar num mundo novo. Era Lisa12, que corria para os braços de Samuel.

Um comentário:

Unknown disse...

Maravilhoso!!!
Que conto!
Envolvente!
Nunca fui de ler contos
éroticos pq geralmente
são vulgares, mas os seus...
São perfeitos!!!!